O desentendimento entre o governo da Rússia e o grupo paramilitar ganhou grandes proporções depois que o líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, acusou o exército de bombardear suas bases
Grupo Wagner: líder convocou rebelião armada contra o governo russo. Foto: Arkady Budnitsky/Anadolu Agency/Getty Images.
O grupo paramilitar “Wagner”, que até então era aliado do Kremlin na guerra da Ucrânia, convocou uma rebelião armada para derrubar o governo Putin.
O desentendimento entre o governo da Rússia e os mercenários ganhou grandes proporções depois que o líder do grupo, Yevgeny Prigojin, acusou o exército de bombardear suas bases próximas à linha de frente da guerra da Ucrânia.
Veja o que se sabe até agora sobre o conflito entre a Rússia e o grupo Wagner:
O que é o Grupo Wagner?
Fundado em 2014, o “Wagner” é um grupo paramilitar privado de mercenários composto por ex-soldados, prisioneiros e civis russos e estrangeiros. O líder da equipe de elite é o oligarca Yevgeny Prigozhin, com forte ligação ao Kremlin. As primeira missões do grupo ocorreram em Donbass, no leste da Ucrânia, e na península da Crimeia, quando os mercenários ajudaram as forças separatistas a tomar a região.
Durante anos, Prigojin fez trabalho clandestino para o Kremlin, enviando mercenários de seu grupo privado para lutar em conflitos no Oriente Médio e na África, sempre negando qualquer envolvimento. Com a guerra da Ucrânia, Putin utilizou os mercenários no conflito. Segundo estimativas, os paramilitares têm mais de 20 mil soldados na guerra da Ucrânia.
O líder, Yevgeny Prigozhin, afirmou que 25 mil soldados estão prontos para derrubar o ministro da defesa russo.
Quem é Yevgeny Prigojin, ex-vendedor de cachorro quente e líder do grupo Wagner:
Prigojin nasceu em São Petersburgo em 1961 e foi preso por cometer pequenos delitos na adolescência e foi condenado por quase 10 anos. Quando saiu da prisão, ele e sua mãe começaram a vender cachorro quente e depois abriram um restaurante, foi quando ele conheceu Vladimir Putin. Ele se tornou um oligarca rico após conseguir contratos lucrativos de refeições com o com o Kremlin, o ficou conhecido como o “chef de Putin”.
Ele virou um combatente de guerra ocorreu após os movimentos separatistas apoiados pela Rússia em 2014 no Donbass, no leste da Ucrânia. Prigojin fundou o grupo Wagner para ser um grupo paramilitar que lutaria em qualquer causa apoiada pela Rússia, em qualquer lugar do mundo.
Prigozhin ganhou influência política e se lançou em um confronto com autoridades políticas e militares que parece ter ido além da retórica.
Por que o grupo Wagner quer derrubar o governo russo:
O líder da milícia Wagner acusou na sexta-feira, 23 o exército de Moscou de bombardear sua bases e convocou a população a se revoltar contra o comando militar.
O exército negou as acusações, que chamou de “provocação”, enquanto os serviços de segurança russos abriram uma investigação contra Yevgeny Prigozhin, por tentativa de motim.
A tensão ocorre em meio à contraofensiva das tropas ucranianas para reconquistar territórios tomados pela Rússia desde o início da intervenção militar, em fevereiro de 2022.
Horas antes do surgimento da crise, Prigozhin afirmou que o exército russo estava “se retirando” no leste e sul da Ucrânia, contradizendo as afirmações do Kremlin, que afirma que a contraofensiva de Kiev fracassa. “As Forças Armadas ucranianas estão fazendo as tropas russas recuarem”, declarou, em entrevista publicada no aplicativo Telegram por seu serviço de imprensa.
“Não há controle algum, não há vitórias militares” de Moscou, insistiu Prigozhin, acrescentando que os militares russos “se banham em seu sangue”, referindo-se às grandes perdas sofridas pelas tropas regulares. Putin e seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, afirmam, por sua vez, que o Exército está “repelindo” todos os ataques ucranianos.
Grupo Wagner afirma ter tomado cidade no sul da Rússia:
O líder dos mercenários, Yevgeny Prigojin, gravou vídeos em que anunciava a tomada de controle das instalações militares de Rostov-on-Don, no sul da Rússia e exigiu uma reunião com o comando da Defesa do país, ameaçando marchar até Moscou caso as demandas não fossem atendidas. Nas imagens, divulgadas pela plataforma Telegram, Prigojin cobrava que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o chefe das Forças Armadas do país, Valery Gerasimov, fossem a Rostov encontrá-lo.
Rússia instala regime de operação antiterrorista:
A Rússia instaurou, neste sábado, um “regime de operação antiterrorista” na região de Moscou, depois que o grupo paramilitar Wagner afirmou ter controlado os territórios militares da cidade de Rostov. O escritório do Wagner em São Petersburgo, por exemplo, foi alvo de buscas de forças militares neste sábado, de acordo com agências locais de notícias.
A medida reforça os poderes dos serviços de segurança e prevê a instalação de inspeções de documentos de identidade e de veículos nas vias. Também autoriza a suspensão temporária dos serviços de comunicação, caso seja necessária. Com isso, todos os eventos e acontecimentos marcados para este sábado em Moscou foram cancelados, anunciou o prefeito da capital russa, Serguéi Sobianin.
Ricardo Lima / Fonte: Redação “Exame.55”.