Charles Robert Watts, mais conhecido como Charlie Watts, baterista do grupo Rolling Stones, morreu aos 80 anos, em Londres. Segundo informações dadas pelo porta-voz do artista nesta terça-feira (24/08), o baterista faleceu no hospital ‘pacificamente’ e ‘cercado por sua família’. O comunicado se referia à Charlie como um dos maiores bateristas de sua geração, e ao final solicita que a ‘privacidade da família, membros da banda e amigos próximos seja respeitada neste momento tão difícil’.
“É com imensa tristeza que anunciamos a morte de nosso amado Charlie Watts. Ele faleceu pacificamente em um hospital de Londres na manhã de hoje, cercado por sua família. Charlie era um marido, pai e avô querido e também como membro dos Rolling Stones um dos maiores bateristas de sua geração”, informou o porta-voz.
De acordo com a revista Rolling Stone, a morte de Charlie veio semanas depois de ser anunciada a ausência do baterista nos estádios dos Estados Unidos na turnê da banda, No Filter Tour. “Charlie passou por um procedimento que foi totalmente bem-sucedido, mas seus médicos concluíram que ele agora precisa de descanso e recuperação adequados”, disse um representante da banda.
A jornada de Watts nos ilustres Rolling Stones iniciou durante o primeiro ano de existência da banda, em 1962, que já tinha a dupla Mick Jagger e Keith Richards entre seus fundadores. A primeira apresentação do grupo foi em julho de ’62, nomeada ‘A noite do Marquee’. “A noite do Marquee foi a gravação de um show de rádio, e a banda era a de Alexis Korner, com quem eu já tinha tocado. Tinha também o Brian Jones, com quem eu tocara um ano antes. Então, era um embrião do grupo, que só foi se estruturar ao longo do ano. Nós consideramos que o dia 2 de janeiro é a data de fundação da banda”, disse o baterista ao Estadão em 2012.
Além disso, o baterista teve influência fundamental na composição visual do grupo, juntamente com Mick Jagger. Em 2005, à Rolling Stone, respondeu que para a imagem do grupo buscava algo cativante. “Algo cativante e, eu espero, bonito. Mas você não quer que seja cafona. A língua é um exemplo clássico. Por mim, iria direto para a beleza. Mas, por conta da posição em que estamos, você tem que ter algo arrebatador que tome conta”, afirmou.
Praticante do skiffle, gênero inglês inspirado nas jazz bands norte-americanas dos anos ’20, Watts tocava bateria desde a adolescência. Ao longo das décadas, sempre teve costume de se apresentar com outros músicos quando não estava em turnê com a banda, além de frequentar um dos principais clubes de jazz do Reino Unido, o Ronnie Scott´s.
A revista Rolling Stone definiu o estilo de Charlie como sendo um ‘toque leve, sentido rítmico singular e sensação impecável’, além de ser considerado o ‘motor que impulsionou a música dos Stones e um dos bateristas mais famosos e respeitados de todos os tempos’.
Em maio de 1985, foi gravado seu primeiro Long Play (LP), LP da Charlie Watts Orchestra, no Fulham Hall, pela CBS, acompanhado por músicos de diferentes gerações. No projeto, o baterista tocava com 32 artistas, entre percussionistas, trompetistas, trombonistas, baixistas, vibrafonistas, clarinetista, pianista, violoncelista e cantores. “É como ser criança novamente”, dizia Charlie Watts sobre a animação em tocar seu gênero preferido.
Durante os anos 2010, lançou um álbum e se apresentou diversas vezes com o grupo A, B, C & D of Boogie Woogie, acompanhado dos pianistas Ben Waters e Alex Zingernberger, e do baixista Dave Green. “No palco nós apenas vamos na nossa levada. Nós só tocamos, não temos material original nem composições. É uma diversão”, destacava sobre o trabalho ao Estadão.
Watts afirmava ser influenciado por vários artistas como Elvis Jones, Roy Haynes e Kenny Clarke. Além disso, quando questionado em como era se apresentar longe dos holofotes disse que não havia diferença. “Não há diferença. Apenas os tempos e as épocas são diferentes. E essa é uma banda acústica”.
Ao longo da carreira, o R&B sempre esteve presente em sua trajetória. O cantor Robert Palmer, falecido em 2003, ao analisar as variações do conceito de rock para o The New York Times, em 1978, afirmou que Charlie está ‘impregnado de R&B’ porém suas origens estão no jazz. “Charlie Watts está impregnado de R&B, mas suas origens estão no jazz. Comparado ao senhor Watts, a maioria dos bateristas de rock soam desajeitados: eles fazem muito barulho, mas não têm o verdadeiro embalo do rock’n’roll”.
Em 2004, o cantor foi diagnosticado com câncer na garganta, mas se recuperou bem ao tratamento voltando à ativa meses depois. No momento, foi questionado pela Rolling Stone se era possível imaginar a banda sem ele. “Acho que eles fariam isso, se quisessem. Se eu não estivesse bem o suficiente para tocar nesta turnê [A Bigger Bang Tour, em 2005], outra pessoa faria isso, se Mick e Keith quisessem. Não há razão para achar que eles não deveriam, se há pessoas que comparecem para vê-los. Existem caras da equipe que podem fazer o que eu faço”, respondeu.
Charlie já esteve no Brasil diversas vezes, passando pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Uma das mais memoráveis em fevereiro de 2006, em um show para uma multidão na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, a apresentação foi transmitida ao vivo pela Globo. A passagem mais recente foi em 2016, por meio da Olé Tour, que passou pela América do Sul. Além disso, a banda se apresentou no país em 1995 e 1998.
Durante a pandemia, os artistas estão se adaptando por meio de lives. Em abril de 2020, Watts se apresentou durante o One World Together At Home e chamou atenção ao aparecer sorridente. A música estava previamente gravada e usou algumas malas e o braço do sofá como ‘instrumento’.
Ricardo Lima / Fonte: “Jornal O Hoje”