Exercícios físicos, alimentação saudável e manter a mente ativa são cruciais para evitar e reduzir o impacto de doenças graves
Na tarde da sexta-feira, 6, Iris Rezende sentiu fortes dores de cabeça e, acompanhado da família, foi ao Instituto de Neurologia de Goiânia. O ex-prefeito de Goiânia e ex-governador de Goiás, de 87 anos, passou por bateria de exames e a causa das dores foi identificada: um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH). Em outras palavras, houve um rompimento de vaso sanguíneo no lobo temporal direito, a área do cérebro próxima à têmpora direita.
Nesses casos, o procedimento médico padrão é uma cirurgia para drenar e conter o sangramento. A assessoria do político informou que Iris Rezende estava consciente logo antes de passar pela operação, às 16 horas da sexta-feira. Após três horas, a equipe médica considerou o procedimento um sucesso. Segundo o neurologista Valter da Costa, que realizou a cirurgia juntamente com o irmão, Joaquim da Costa, o uso prolongado de anticoagulante foi considerado o principal motivo do AVC.
Nos dias seguintes, em entrevistas coletivas, uma das filhas do ex-prefeito, Ana Paula Rezende, reportou a recuperação de Iris Rezende: “De sexta-feira para cá foi um susto muito grande, pois estamos acostumados a vê-lo com muita saúde, com muito ânimo, sempre em movimento. Não lembro de ver meu pai doente, então isso me deixou muito abalada. No entanto, estou confiante e com muita esperança de que tudo vai dar certo”.
Ana Paula Rezende também afirmou que o pai sempre manteve um estilo de vida saudável e foi extremamente ativo — física e mentalmente. Na avaliação do neurocirurgião Valter Costa, é possível que o ex-prefeito não apresente nenhuma sequela. “Pelo aspecto que está a área do hematoma, ele vai evoluir muito bem. É possível que fique sem sequela”, postula o médico.
A recuperação positiva de Iris Rezende tem motivo que mora no seu estilo de vida. O ex-prefeito de Goiânia sempre teve uma vida agitada por conta dos cargos públicos que ocupou, mas nunca deixou de lado os bons hábitos. A boa alimentação sempre esteve presente. Volta e meia ele participava de caminhadas, seja em eventos públicos ou mesmo em campanhas, mas essa era uma rotina em seu dia a dia – quem o acompanha de perto relata que a esteira era um equipamento utilizado todas as manhãs pelo emedebista. além do acompanhamento de um personal trainer.
O professor, fisioterapeuta, doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, e que atualmente ocupa a função de coordenador científico do Hospital ENCORE, Dr. Giulliano Gardenghi, avalia que esse estilo de vida foi fundamental para reduzir os efeitos do AVC. “O que se pode dizer é que a pessoa que sempre teve hábitos saudáveis é ela acaba tendo uma proteção na recuperação. Assumindo que a agressão do AVC existe, há também a possibilidade dos tecidos do cérebro se regenerarem melhor”, aponta.
O especialista ainda avalia que uma pessoa como hábitos como o de Iris Rezende tem histórico de vasos sanguíneos mais saudáveis, pressão arterial regular. “Tudo isso ajuda o indivíduo em outro fator muito importante que é observado neste caso: por ser sempre ativo e ter boa alimentação, ele passa a ter uma boa massa muscular e uma boa reserva maior. Isso acaba ajudando na recuperação física pós-evento (AVC)”, afirma.
A cirurgia
“Durante a cirurgia, o objetivo não é somente salvar a vida do paciente, mas também evitar sequelas, especialmente diante do fato de Iris já ter 87 anos”, explica o Dr. Feres Chaddad, professor, chefe da Disciplina de Neurocirurgia da Unifesp e coordenador da Neurocirurgia da A Beneficência Portuguesa de São Paulo. “O AVC atingiu o lobo temporal direito, que tem função na percepção auditiva”, explica Feres Chaddad. “Os pacientes com lesões do lobo temporal direito geralmente perdem a acuidade para estímulos auditivos não verbais, como a percepção musical.”
O tempo também é fundamental para evitar possíveis sequelas. Em um AVC, cerca de 120 milhões de células cerebrais morrem a cada hora em função dos danos causados pela falta de fornecimento sanguíneo no tecido. Comparando com a taxa de perda celular, que ocorre normalmente, é como se, em uma hora, o cérebro envelhecesse algo em torno de quatro anos.
“Todo procedimento neurocirúrgico em contexto de um AVC hemorrágico é delicado”, explica o neurocirurgião. “A recuperação também pode levar um tempo maior, pelo fato de o cérebro ter sofrido um ferimento e também pelo tamanho do coágulo formado.” Segundo o governador de Goiás, o médico-ortopédico Ronaldo Caiado (DEM), que acompanhou a cirurgia, o coágulo retirado de Iris Rezende estava com tamanho de 4 por 9 centímetros, o que é considerado grande. “No entanto, de acordo com as informações divulgadas pelo hospital, a resposta do movimento das mãos de Iris é muito positiva”, assinala Chaddad.
Segundo o neurocirurgião, após a cirurgia e respectivas análises de equipes multidisciplinares, é ideal que o paciente siga para reabilitação de possíveis sequelas e mantenha o acompanhamento e controle das comorbidades que possam estar associadas ao risco mais elevado de reincidência do quadro.
Fonte: Jornal Opção