Especialista pontua que bom desempenho e altos números em plataformas sociais não representam certeza de sucesso eleitoral.
A menos de 10 meses das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dispara frente aos adversários nas redes sociais Facebook e Instagram no número total de seguidores e de interações, incluindo a quantidade de reações, curtidas, comentários e compartilhamentos das postagens.
O atual chefe do Palácio do Planalto, no entanto, perde quando se compara a evolução de seguidores nas duas plataformas, sendo que no Instagram, a derrota é para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve ser o seu maior adversário nas urnas em outubro.
A análise é fruto de compilação de dados feito pelo MonitoraBR entre os dias 1º de dezembro de 2021 e 20 de janeiro de 2022. A pedido da reportagem de O TEMPO, foram monitoradas as redes sociais dos 12 cotados à Presidência da República nas eleições.
Além de Bolsonaro e Lula, colocaram o nome na disputa Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB), Rodrigo Pacheco (PSD), Luiz Felipe d’Avila (Novo), Alessandro Vieira (Cidadania), André Janones (Avante), Leonardo Péricles (UT) e Aldo Rebelo (Sem partido).
Segundo o levantamento, Bolsonaro sai à frente com pelo menos 62% a mais no total de seguidores no Facebook em relação aos outros cotados à Presidência. Enquanto tem 10,9 milhões de seguidores, seus adversários têm abaixo de 4,1 milhões – número de Lula. O terceiro é Janones, com 4 milhões. Moro, que tem aparecido em terceiro lugar em pesquisas eleitorais, aparece em 10º lugar no ranking, com 41,1 mil seguidores.
Os dois primeiros lugares do pódio de seguidores se repetem na avaliação sobre o Instagram, plataforma em que 19,1 milhões de pessoas seguem Bolsonaro e 3,9 milhões acompanham Lula. O petista tem apenas 20% do número de seguidores de Bolsonaro. Nesta plataforma, Moro já sobe para a terceira posição com 2,5 milhões de seguidores. Em último lugar, Leonardo Péricles, 19,9 mil seguidores.
Apesar da contagem total, Moro ganha frente no quadro que mostra a evolução nas redes. O ex-juiz foi o que mais ganhou seguidores no Facebook (19.384), seguido por Lula (10.950), Tebet (650), d’Avila (348) e Péricles (30). Na contramão, Doria foi o que mais ganhou unfollow – 9.193 pessoas deixaram de seguir o tucano. Bolsonaro ocupa o segundo lugar de queda, com menos 6.568 seguidores no período, seguido por Janones (4.401), Ciro (1.122), Pacheco (430), Alessandro (55) e Rebelo (4).
Já no Instagram, apenas Doria e Alessandro perderam seguidores (6.607 e 696, respectivamente. Todos os outros, com exceção de Pacheco e Rebelo que não possuem contas monitoráveis, ganharam quem os acompanhassem na plataforma. Lula saiu em liderança, com mais 370.169 seguidores, seguido por Bolsonaro (111.027), Tebet (10.066), d’Avila (9.707), Ciro (3.765), (Moro (3.527), Péricles (221) e Janones (132).
O pódio de reações, comentários e compartilhamentos das publicações no Facebook é liderado por Bolsonaro, que soma mais de 18,7 milhões de interações dos três tipos. É ocupado também por Lula e Janones, que somam 4,8 milhões e 1,8 milhão de interações, respectivamente.
No Instagram, o terceiro lugar do pódio de interações muda de figura e recebe Moro, com uma média de 41,7 mil interações (curtidas e comentários) a cada publicação feita. Bolsonaro e Lula seguem em primeiro e segundo lugar, com uma média de 270 mil e 122,5 mil interações a cada post, respectivamente.
Especialista pontua que desempenho em rede social não é certeza de sucesso eleitoral
Para a consultora de marketing e comunicação política Fernanda Camargos, as redes sociais tiveram destaque a partir da eleição de 2018 porque diminuíram a distância entre políticos e eleitores, antes alargada por palanques físicos de difícil acesso à população. Segundo ela, as redes sociais “socializaram” esse contato e podem ser uma oportunidade para os políticos aproximarem ainda mais a relação com a população.
“Hoje, só a internet é capaz de entregar conteúdos segmentados. A televisão não faz isso. Você pode ter um programa de cinco minutos no horário da TV, mas se a pessoa não assistiu, ela perdeu aquilo. Então, se você cria um conteúdo segmentado voltado para interesses e questões que vão de encontro da expectativa de cada de cada pessoa que está na rede, você consegue ter mais possibilidade de conversão em voto”, explicou.
Diferente do último pleito eleitoral, ela avalia que as redes sociais devem ter menor impacto no dia a dia dos eleitores neste ano. Segundo a consultora, os candidatos vão precisar focar em atrair o interesse de pessoas.
“Eu não acho que as pessoas vão gastar tanto tempo em uma disputa de WhatsApp, briga de grupo de WhatsApp, em briga em comentários, porque elas estão preocupadas com emprego, em comer, em conseguir pagar gasolina, em conseguir pegar o ônibus”, afirmou.
Camargos afirma que ter alto número de seguidores não é certeza de sucesso na urna eleitoral. Ela considera, inclusive, precoce relacionar a posição de Bolsonaro nas redes sociais a um crescimento eleitoral.
“Quando a gente compara isso com a aprovação dele no cargo, é inversamente proporcional. Eu acredito que as pessoas começaram a seguir contas governamentais e públicas na pandemia para se informarem, esse é um ponto que eu acho que impactou tanto nas contas do presidente”, disse.
“Eu não acho que os números de curtidas, de like, de seguidores, sejam um ponto. E outra questão, o presidente Bolsonaro, desde 2018, é conhecido por ter uma ótima mobilização. Ele tem uma ótima capilaridade quando o assunto é mobilização, diferente dos outros”, acrescentou a consultora. “Ele tem essa mobilização com ele, mas eu não consigo dizer se cresceu ou se são as mesmas pessoas de 2018”, completou.
Como exemplo, ela usa Simone Tebet, que teve a pré-candidatura lançada pelo MDB em dezembro. “Ela tem 113 mil seguidores no Instagram. Não tem condição de a gente comparar com Bolsonaro. Mas ela teve um crescimento em buscas no Google, teve um crescimento de seguidores. Dentro de um universo pequeno, ela tem um aumento de engajamento. Então, é preciso entender os fenômenos separadamente pra gente não se confundir e acabar dando um veredito que não faz muito sentido”.
Fernanda Camargos destaca, ainda, que as eleições de 2022 devem caminhar para um maior rigor nas regras eleitorais em comparação a pleitos anteriores. De acordo com ela, uma maior fiscalização deve ser feita por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para evitar abusos e, principalmente, conter a disseminação de informações falsas.
Uma das medidas estudadas pela autoridade eleitoral é suspender o funcionamento do aplicativo Telegram, usado para o disparo de mensagens em massa sem restrições de encaminhamento. O argumento é o combate às fake news, que a consultora julga ser válido.
“Quem estiver fazendo uma comunicação correta, redonda, usando sua própria base de dados vai estar tudo certo. Vai dar mais trabalho? Um pouco mais, porque o WhatsApp tem restrições de encaminhamento e de compartilhamento de conteúdo. Mas o Telegram só vai abalar a quem tem esses supernúcleos de fake news”, finalizou Camargos.
Fonte: O Tempo Online